Hoje é dia de Acção de Graças. Os americanos festejam este feriado de forma entusiástica, é notícia e o país […]
HISTÓRIAS QUE GUARDO
A silenciosa diabetes
Todos temos casos na nossa família ou que conhecemos, de diabetes. Acontece o mesmo com outras doenças. Infelizmente. Há realidades que nos tocam e este toca-me muito. Tenho uma grande amiga diabética e quando estamos juntas ela faz medições dos níveis de glicose ou injecções de insulina. Não me incomoda nada, desde que esteja bem. Mas sei que tem muitos cuidados.
Habituamo-nos à palavra, a ouvir falar de diabetes e parece que nem valorizamos como devíamos. Mesmo que não conheça em pormenor alguma doença, o meu trabalho dá-me essa possibilidade.
Hoje, logo pela manhã, neste Dia Mundial dei conta dos números mais negros de que podemos ter memória: 200 novos diagnósticos todos os dias. 3 membros amputados, todos os dias.
Maior incidência nas mulheres, por ano morrem cerca de 2mil e 500. Tudo fica mais grave com o cenário de diabetes gestacional. São números tão maus que o Presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal os comparou à calamidade dos incêndios. Não podia ser uma imagem mais dramática. É muito certeira. Às vezes… Temos de chocar.
A diabetes, como muitas outras doenças, dependem muitos vezes (não todas) do nosso estilo de vida. Hábitos saudáveis, alimentação correcta, prática de exercício físico.
Há poucas semanas a Organização Mundial da Saúde alertava que, daqui a 4 anos, o número de jovens obesos vai ultrapassar o número de pessoas subnutridas. 55 por cento das pessoas com diabetes tem problemas de obesidade.
Fui embaixadora do desporto em Portugal. Assumi o compromisso de correr e escalar paredes mas também de passar a mensagem: be active, sejam activos.
Pela vossa saude, não se lembrem do vosso bem estar apenas quando a situação já é grave. Corremos cada vez mais mas a tendência é para vivermos melhor… Não é amanhã, infelizmente. Vamos trabalhar, dividir-nos e a ciência vai ajudar-nos. Mas… Às vezes pode ser tarde demais.
A minha avó era diabética. Não resistiu a complicações. A doença faz sofrer toda a gente.
Um mês.
Uma C.A.S.A. chamada rua
A ajuda a pessoas sem abrigo, sem Lisboa, esteve marcada por 2 ou 3 vezes mas só aconteceu agora. Há muito que queria fazê-lo, não por caridade ou caridadezinha (são coisas BEM diferentes) mas porque queria ajudar, temos todos essa capacidade. Ajudar não apenas dar dinheiro, dar tempo, estar com as pessoas, ouvi-las, perceber de que são feitas… isso, às vezes, tantas vezes… é a melhor ajuda que se pode dar a alguém.
Associei-me à associação All Humans, que recolhe bens bens de higiene, que fazem tanta falta e que as pessoas que vivem na rua tanto necessitam. Às vezes nem pensamos nisto, a alimentação é, inevitavelmente, a primeira lembrança que temos mas, acreditem, é mesmo muito importante: uma escova ou pasta de dentes, uma lâmina para desfazer a barba, um desodorizante, um sabonete… a história que mais me tocou tem que ver com a distribuição destes bens.
A All Humans associou-se ao C.A.S.A., Centro de Apoio aos Sem Abrigo, que já distribui refeições. No fundo, é aproveitar este conhecimento das pessoas que mais precisam de ajuda e dos locais onde estão. O ponto de encontro foi às 19h30, estava um calor infernal de agosto em outubro, e começámos a carregar os carros. Como podem ver, não é preciso muita gente para ajudar, é preciso é gente! As rondas da All Humans estão distribuídas por zonas- Oriente, Saldanha, Cais do Sodré e Santa Apolónia, onde fui. Quem precisa está à espera de quem vai ajudar mas há sempre alguma dúvida se aqueles dois carros que chegam querem mesmo ajudar ou não… é legítimo, claro que é. Uma das senhoras que conheci lembrou que alguém pegou fogo ao sítio onde dormiam. Pura maldade.
Debaixo do viaduto distribuímos muitas coisas mas acabamos por ir mais à frente, a pé. Algumas pessoas faziam o jantar numas brasas ateadas perto de uma parede e tentavam esquecer que vivem numa carrinha há cerca de 1 mês.
“Ah, mas eu vou sair daqui que já estou a trabalhar. Só preciso de arranjar um quartinho”, disse um desses homens. Eram 4 homens e uma mulher.
Lisboa é uma cidade de contrastes, como o da fotografia… A Lisboa dos turistas e dos grandes eventos não pode chegar os olhos a quem ‘mora’ ali ao lado.
Fizemos mais uma paragem e depois chegamos frente à estação. O primeiro carro a ser procurado é sempre o da comida mas depois de perceberem o que estávamos a distribuir, chegaram-se a nós. Distribuímos quase tudo: o que sobrou de comida deitaram fora mas os bens de higiene ficam guardados.
Uma senhora, muito velhinha, muito pequenina insistiu muito para lhe dar um sabonete. Não havia sabonetes soltos e não podíamos abrir sacos já compostos, os bens tinham de chegar para todos. A senhora insistiu muito e acabou por ir embora… quando ela se afastou e eu uma das coordenadoras olhamo-nos e percebemos: estavamos no fim da noite e íam sobrar coisas. Abri um saco e corri atrás da senhora. Ela segurou o sabonete como se fosse feito de ouro, pegou-me nas mãos e agradeceu muito e depois disse-me: ‘Dê-me um beijinho. Eu sou assim e sou velhinha mas não tenho nenhuma doença. Deus a ajude muito’…
Quase que fiz directa naquela noite mas depois disto o meu sono passou a ser uma coisa absolutamente relativa.
A All Humans precisa de ajuda, naturalmente. Os bens distribuídos são recolhidos em empresas ou resultam de donativos de pessoas. Se não sabem o que fazer este Natal (mais que não seja isso…) ajudem estas pessoas!
Passem aqui: www.facebook.com/associacaoallhumans/
(Comprometi-me, obviamente a tirar fotografias que apenas identificassem os sítios e nunca as pessoas. Todos têm direito à privacidade e, além do mais, eu estava ali para ajudar, tinha coisas para fazer. As fotografias são, por isso, poucas e dissimuladas. E é assim que tem de ser.)
Nós
Somos um povo dos diabos! Ah, se somos! Condenamos pais que matam filhos; filhos que matam pais; filhos que roubam […]
Prata
Agora que a Selecção Portuguesa já está apurada para o Campeonato do Mundo de futebol na Rússia e que os jogos da Liga dos Campeões só começam logo à noite, deixem-me falar-vos de karaté.
Para quem não sabe, o karaté vai ser modalidade olímpica já nos próximos Jogos Olímpicos (as outras 4 novas modalidades são basebol, surf, escalada, e skate) em Tóquio 2020 e em Portugal há variadíssimos exemplos de sucesso na modalidade.
Vou falar-vos de um: o Miguel Fonseca, que ganhou uma medalha de prata no Open Internacional Kimura Sukukai Internacional (KSI) que decorreu na Estónia, no fim de semana passado. Nada de extraordinário se o Miguel não tivesse 17 anos e abdicasse de todo o tempo livre para praticar desporto. Desde os 7 anos que o faz, já é cinto preto. No karaté, os níveis são diferenciados pelas cores dos cintos- branco, amarelo, laranja, verde, azul, vermelho, castanho e preto, por esta ordem, do iniciado até ao mais graduado.
Por ano, o Miguel e o grupo do clube Spartan Martial Arts, de Rio de Mouro, participam em 14 provas, em Portugal e no estrangeiro. Participações e material financiado pelos pais, quase na totalidade.
O grupo é pequenino mas é bem forte, deixo-vos a lista dos premiados. Parabéns ao Miguel e a todos. Quem sabe… não ganhamos ainda uma medalha? Neste grupo abaixo temos 3 de ouro, 4 de prata e 1 de bronze. Grande aplauso.
(Selecção Nacional da APKS composta por 3 clubes: Coimbrenses, Dojo Samurai e Spartan)
Francisca Duarte – Medalha de Prata em Kata Individual e Medalha de Prata em Kata equipa
Mariana Tome – Medalha de bronze Kata individual e Medalha de Bronze em Kumite
Constança Matos – Medalha de Ouro em Kumite – Medalha de Prata em Kata equipa e medalha de bronze em Kata Individual
Diogo Teixeira – Medalha de Ouro em Kumite
David Reis – Medalha de prata em Kata equipa
Miguel Fonseca – Medalha de Prata em Kumite
Daniel Rodrigues – Medalha de Prata em Kumite e medalha de Bronze kata
Nuno Dias – Medalha de Ouro em Kumite
Referências:
https://sites.google.com/site/shotokankaratept/cintos
O maravilhoso mundo da tecnologia, parte 1
Sou uma entusiasta da tecnologia. Não era mas tornei-me quando uma professora me lançou o desafio de fazer um trabalho sobre a 4ª Revolução Industrial. Sim, faz parte da vida, sim, está em todo o lado. Daí até a estudar na academia vai um passo gigante. A nova tecnologia é todo um mundo novo, um fantástico mundo novo que já começou há algum tempo.
Bem… comecemos pelo início.
Lembram-se do ano de 2007? Eu também. Foi o ano em que entrei na TVI mas não é por isso que pode ter sido um ano importante nas vossas vidas, estou certa!
2007 foi o ano em que Steve Jobs apresentou o iPhone ao Mundo (falámos disso há pouco tempo por ocasião do lançamento do iPhone X). Pronto, podíamos ficar já por aqui, não era? Mas não, há muito mais. Em 2007 surgiu a Hadcoop, uma empresa que resultou da fusão de um conjunto de empresas americanas que reformularam todo o sentido das máquinas, a capacidade de armazenamento, mas também o pensamento e o trabalho e que desenvolveram o que hoje conhecemos por ‘big data’. As plataformas sucederam-se e o armazenamento em ‘cloud’ parece que sempre existiu.
No final de 2006, 26 de Setembro, para ser mais exacta, uma rede social que funcionava apenas num colégio, entre colegas, ficou à disposição do mundo. Era o Facebook, hoje já ultrapassa os mil milhões de utilizadores em todo o Mundo. E mesmo mesmo ali no final do ano a Google comprou o Youtube, que em poucos meses chegou também à plataforma Android.
Nesse mesmo ano, surge o Twitter e o Change.org, uma das redes mais utilizadas para recrutamento de pessoas. A Amazon lançou o Kindle, que nos deu acesso massificado aos e-books. Também por essa altura, num apartamento de São Francisco foi concebido o Airbnb.
Sabem o que é o algoritmo, que complica a vida a tanta gente, nas mais diferentes áreas da sociedade? Pois… adivinhem… também foi nesse ano que a Palanit Technologies, líder no desenvolvimento do big data chegou ao nível de criação do tal algoritmo que “podia ligar coisas que não faziam sentido antes”, nas palavras do co-fundador Alexander Karp.
Depois, os computadores: a IBM começou a construir o Watson, o primeiro pc cognitivo e a Intel criou os microships. De resto, apareceram as luzes LED, mais uma revolução.
Aposto que nesta altura estão de boca aberta a pensar “pois foi!”, aconteceu-me o mesmo. 2007 foi mesmo amazing!!! Mais importante do que pensar nisso é pensar na extraordinária evolução que aconteceu em 10 anos e, claro, para onde vamos.
É aqui que quero chegar.
Os modelos de negócio estão a mudar. Não deixa de haver economia, há é de forma diferente: em vez de ligar para o hotel, reserva na internet; encomenda qualquer produto on-line e horas depois está na sua casa; estabelece ligação por skype para o outro lado do mundo, sem precisar de fazer uma viagem.
O Fórum Económico Mundial (FEM) prevê que 5 milhões de empregos desapareçam no Mundo, nos próximos 20 anos: 52% de mulheres e 48% dos homens. Nos Estados Unidos a percentagem de pessoas substituídas pelas máquinas pode chegar a 47%.
Thomas L. Friedman, jornalista do New York Times é uma das pessoas que mais tem procurado perceber esta tendência, considera que esta questão da tecnologia pode interferir, de uma só vez, com os nossos postos de trabalho, a política, a geopolítica, a ética e a sociedade.
A comunidade científica também já dedica muito tempo ao assunto. Keohane (2009) considerou que este boom nas tecnologias de informação era um dos aspectos mais importantes na evolução da economia e política mundiais. Porque as pessoas mais influentes comunicam com todos e comunicam entre si, de forma imediata, directa, para todo o mundo, num curto espaço de tempo. Mas a verdade é que projectar o futuro é uma tarefa nem sempre fácil e, às vezes, até muito ingrata. Em 1943, o CEO da IBM, Thomas Watson disse que “o mercado mundial daria para 5 computadores”. Imaginem…
O FEM aponta 3 razões que permitem marcar a diferença entre a Terceira e a Quarta Revoluções: a velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas. “A velocidade dos avanços atuais não tem precedentes na história e está interferindo quase todas as indústrias de todos os países”, diz o Fórum (a edição número 46 do WEF aconteceu numa altura em que o mundo procurava também – e ainda assim se mantém- respostas à ameaça terrorista, tinham acontecido há pouco tempo os atentados de Paris em Novembro de 2015 e poucos meses depois também iriam desencadear-se os ataques em Bruxelas em Março de 2016). No boletim “Briefing” de Setembro de 2015 já o Parlamento Europeu chamava a atenção para este fenómeno.
Mais do que nunca, as pessoas fazem diferença: são as pessoas que investigam, que pensam, que lideram. Pensem lá em todas as coisas do nosso dia-a-dia que já são automáticas, já não precisam da nossa presença, que já não implicam o nosso tempo?
As máquinas até podem executar mas não têm knowhow… ainda. Mas… sobre os robôts falamos para a próxima.
Por agora, percam-se na memória e recordem 2007, em toda a plenitude.
Referências:
- Friedman, Thomas L. (2016), Thank you for Being Late, Na optimistic’s guide to thriving in the age of accelerations, Allen Lane.
- Keohane, Roberto O. (2009), The old IPE and the new, Princeton University USA.
Outras referências:
http://www.bbc.com/portuguese/geral-37658309
www.weforum.org
A Teresa e o 9C
O lugar da Teresa era o mesmo que o meu. Quando cheguei ela já estava sentada e, rapidamente, se mudou e chegou à janela. O rosto pareceu-me familiar mas a verdade é que nunca a tinha visto.
Ela dormiu quase toda a viagem para o Funchal. Acho que eu também… travámos conversa apenas na altura da refeição, uma sandwich de ovo e um pastel de nata. Precisavam ver a cara dela quando devolvi o bolo e retirei o ovo do pão: ‘é vegan?!’, perguntou muito chocada. ‘Não’, respondi, ‘sou intolerante’.
Depois dela ter achado aquilo a coisa mais estranha da vida (confesso que eu também, toda a vida comi ovos) lá me contou que os pais viviam no continente mas a mãe era madeirense, que estudava no Colégio Moderno e tocava violino. Vinha passar férias ao Funchal e principalmente, a Porto Santo. Ah, e tinha estado fora de casa até à meia noite, na véspera. Uma loucura para uma menina de 14 anos.
Pegámos no violino, saímos do avião e fomos recolher bagagem. Estavam uns miúdos franceses, muito excitados com o momento (ponham muito nisso!). Deviam ter a idade dela mas a Teresa olhou para mim e, com toda a propriedade de uma menina crescida, disse “bolas, já reparou que as malas são mais educadas que as pessoas… ?”.
Naquele instante, eu agradeci que aquela miúda estivesse sentada no lugar que estava marcado para mim. (Será que estava mesmo…?)