O Ricardo Tomé é Director Coordenador da Media Capital Digital e foi das primeiras pessoas a quem falei sobre este blog. Estamos em sintonia, numa altura em que o digital está a tomar conta das nossas vidas e da comunicação de todos os dias.
1- O que é o digital?
Boa pergunta…. E difícil! Falamos tanto nele e por vezes refletindo pouco no que é ‘isto’, do digital. Para os meus filhos não há digital. É um conceito que se mistura com o real. Creio que só para as gerações que vêm do ‘antes’ do digital existe este paradigma, essa transformação onde já começámos a desligar de muitos dos objetos e bens físicos, como Cds, blocos de notas e brevemente e a 100% o dinheiro, para assumirmos a comodidade da sua versão digital, ‘transportável’ para qualquer lado pela cloud e pela web. É sobretudo um new-way-of-life. Uma forma à qual ainda nos estamos a adaptar, ligados a mais pessoas, mais depressa, mesmo desconhecidos. Onde podemos fazer tudo o que antes fazíamos, mas mais rápido, mais comodamente. Onde por uma pesquisa rápida potenciais o conhecimento e em breve em tempo real falaremos todas as línguas. Diria em suma que o digital é um facilitador e simultaneamente um transformador das nossas vidas.
2- Gostas mais do digital ou do papel?
Digital. Apesar de me fascinar o fabrico do papel e as suas mil versões. De bom grado digitalizaria as centenas de livros e deixaria na estante muito poucos e apenas como obras de arte que alguns são.
3- Achas que em Portugal temos cultura digital suficiente para acompanhar a Europa, nesta revolução?
Ainda não. Infelizmente. Os vários dados de estudos nacionais e internacionais colocam-nos pouco distantes, mas ainda assim atrás. E depois há uma clara divisão quando olhamos para a geografia do país e as faixas etárias e classes sociodemográficas. Mesmo ao nível das empresas é assustador ver que 65% não tem uma presença digital. E mesmo as que têm, desafio a enviar um simples e-mail ou mensagem pela página de Facebook e contar as horas, para não falar dias, até obter resposta. Somos um país de antípodas. Temos uma modernização e digitalização fantásticas nalguns dos serviços públicos e na banca e nas populações jovens e urbanas mas há vários setores ainda que precisarão dar o salto.
4- A Media Capital é uma empresa de media, a cultura digital é uma mais valia para todos?
Claro que sim. As empresas de media vivem de audiências. Haja público a ver/ouvir o que fazemos e haverá interesse em anunciar conjuntamente. Simples. À medida que o consumo de media migra numa parte substancial para o digital, qualquer empresa de media o deve fazer e adaptar-se também. Claro que não em exclusivo por ora, mas numa parte. Ora isso implica que se trabalhe uma cultura digital. Que não é saber que existem sites e o Facebook. É realmente entender o que é o digital, como nós reagimos perante ele enquanto consumidores de conteúdos, como funciona a distribuição dos mesmos, para onde caminha o duopólio Google e Facebook e os intromissões Apple e Amazon, etc. Nos últimos 10 anos foram dados passos brutais que urge todos dominem, sobretudo com a emergência das redes sociais, da Cloud, da mobilidade através dos smartphones e wearables e das comunicações móveis mais acessíveis. Acabamos de entrar na Web 3.0 e ainda poucos se estão a aperceber disso. Tal como na matemática, quem tiver perdido as bases da Web 2.0, dificilmente se aguentará nos próximos 10 anos.
5- O que gostavas de ver acontecer?
No digital, gostava que apesar desta velocidade de transformação do digital a nossa pluralidade enquanto sociedade não fosse ameaçada e se mantivesse salvaguardada. Preocupa-me uma web demasiado tailor-made, onde tudo é voltado para o user, onde os conteúdos são escolhidos pelo algoritmo só para nós, onde a publicidade é só para nós, onde esta filtragem tem por premissa sempre que o que importa é a satisfação pessoal e individual do user, a tal ponto que o possa tornar mais fechado em si e menos aberto ao mundo e aos outros. Gostava que esta Web 3.0 trouxesse mais dessa abertura e preocupação pelo outro e pelo planeta e que abatesse as linhas do egocentrismo. Veremos.
A conversa que tive com o Ricardo Tomé sobre o ‘Deve ser de mim’ foi simples, marcada de véspera, num discurso baralhado, neste mesmo sítio, com este painel cheio de ideias e equações possíveis. Também nunca esquecerei o espírito com que me recebeu, o entusiasmo com que abraçou esta ideia, o empenho que demonstrou e a força e energia positiva que me foi escrevendo em cada e-mail que trocámos. Quando lhe pedi para enviar as 5 perguntas sobre o digital a resposta foi “Claro que sim, respondo a 5 ou a 55”. Percebi que estava com a pessoa certa.
Partilhamos este entusiasmo, as ideias e o sentido de futuro também. E somos cada vez menos adeptos do papel!
Vamos lá a isto!!!