Diabetes Gestacional – será a alimentação importante?
A Diabetes Gestacional (DG) define-se como um subtipo de intolerância aos hidratos de carbono diagnosticada ou detetada pela primeira vez no decorrer da gravidez. A DG ocorre em cerca de 1 em cada 20 grávidas.
Resumidamente, o diagnóstico de DG poderá ser efetuado através de um valor de glicémia em jejum (de 8 a 12 horas) superior ou igual a 92mg/dL ou entre as 24 e 28 semanas de gestação com uma Prova de Tolerância à Glicose Oral (PTGO).
Após o diagnóstico de DG os objetivos de glicémia são:
- Jejum/pré-prandial: Glicémia ≤ 95mg/dL
- 1h após o início das refeições: Glicémia ≤ 140mg/dL
A educação alimentar deverá ser sempre a primeira linha de intervenção na DG, em qualquer período da gravidez. Segundo o Consenso “Diabetes Gestacional”: Atualização 2017, apenas se recorre à terapêutica farmacológica (insulina ou outra) quando os objetivos de glicémia não são atingidos num período de 1 a 2 semanas após a instituição das medidas não farmacológicas – terapêutica nutricional.
Após o diagnóstico de DG, a grávida deverá ser avaliada em consulta de nutrição com o objetivo de definir um plano alimentar personalizado, de acordo com:
- Índice de Massa Corporal preconceção (Peso antes da gravidez / Altura2)
- Ganho ponderal durante a gravidez
- Estado nutricional
- Antecedentes clínicos
- Hábitos alimentares e culturais.
O plano alimentar deverá ser adequado às necessidades energéticas da grávida, que variam consoante o trimestre de gravidez, sendo que no primeiro trimestre as necessidades energéticas mantêm-se as mesmas da mulher não grávida.
Os hidratos de carbono são o nutriente que influencia diretamente o valor da glicémia e deverão ser adequadamente calculados e distribuídos ao longo do dia em cerca de 6/7 refeições diárias (pequeno-almoço, meio da manhã, almoço, um a dois lanches, jantar e ceia). A ceia é habitualmente uma das refeições omitidas pelas grávidas com DG, contudo deverá ser sempre realizada de modo a evitar jejuns noturnos superiores a 8 horas e a evitar a hipoglicémia noturna e cetose matinal.
Seguem-se, de forma resumida, algumas recomendações gerais:
- Avaliar e registar a glicémia de acordo com as indicações do obstetra/endocrinologista;
- Cumprir o plano nutricional personalizado fornecido pelo seu nutricionista;
- Realizar um adequado fracionamento alimentar com refeições com intervalos regulares de aproximadamente 2h30 a 3h e um jejum noturno máximo de 8 horas;
- Realizar uma distribuição adequada de hidratos de carbono ao longo das refeições;
- Incluir diariamente às refeições principais sopa de legumes e legumes no prato de forma a melhorar o controlo de glicémia, devido ao teor de fibra dos mesmos;
- Optar por lacticínios sem açúcares adicionados (exemplo: iogurtes naturais ou magros), apenas com os açúcares naturalmente presentes (a lactose);
- Optar por cereais e derivados integrais, por serem mais ricos em fibra;
- Evitar a adição de açúcar e o consumo de produtos açucarados;
- Alternar o consumo dos vários frutos, de acordo com as equivalências de hidratos de carbono, isto é, substituindo os frutos, mas mantendo a mesma quantidade de hidratos de carbono aquando da sua substituição. Exemplo: 1 maçã = 1 pera = ½ Banana = 8-10 Uvas = 2 Tangerinas = 2 Kiwis pequenos, etc.
- Evitar a ingestão de sumos, mesmo que sejam naturais, uma vez que um sumo terá sempre mais do que 1 porção de fruta;
A atividade física deve ser incentivada, devendo, sempre que autorizado pelo obstetra, caminhar pelo menos 30 minutos por dia, se possível após uma refeição.
Caso não exista um acompanhamento médico e nutricional eficaz para o controlo da glicémia durante a gravidez, poderá ter como consequência algumas complicações graves para a mãe e para o bebé. As complicações mais comuns são bebés com um peso superior a 4Kg à nascença e a necessidade de cesariana na altura do parto ou, ainda, podem ocorrer abortos espontâneos.
A Diabetes Gestacional habitualmente “desaparece” após o parto.