Alimentação anticancro
Os números não enganam: em Portugal, o cancro é a segunda principal causa de mortalidade, depois das doenças cérebro-cardiovasculares. Ao longo dos últimos anos, tem-se verificado um aumento da incidência de cancro em Portugal. Este aumento resulta do envelhecimento da população, fruto da crescente taxa de sucesso no tratamento de outras patologias, contribuindo para uma maior probabilidade de aparecimento de novas neoplasias. Aliado a estes fatores, estão também presentes alterações dos estilos de vida, com impacto significativo na incidência de cancro.
Embora tenhamos cada vez mais casos de cancro, existe também cada vez mais sucesso no tratamento destas doenças. A evidência científica demonstra que determinados fatores de risco aumentam a probabilidade de desenvolver cancro. Destes fatores de risco, podemos destacar a alimentação nutricionalmente desequilibrada, o álcool, o sedentarismo, o excesso de peso, o tabagismo, entre outros. Hábitos alimentares incorretos promovem o aumento de peso. O excesso de peso é um fator que contribui para o desenvolvimento de cancro, em particular na mama (na mulher pós-menopausa), no colón-reto, no endométrio, no esófago, no rim, no pâncreas e na vesícula biliar. Por outro lado, a desnutrição, associada a deficiências em micronutrientes, como a vitamina A, riboflavina, vitamina B12, ácido fólico, vitamina C, ferro, selénio e zinco, inibe, uma grande parte das funções imunológicas, imprescindíveis no controlo da inflamação.
Nenhum alimento consegue, por si só, proteger-nos contra o cancro. Contudo, a evidência mostra-nos que uma dieta rica em legumes e vegetais, frutas, cereais integrais e leguminosas ajuda a reduzir o risco de vários tipos de cancro. Uma alimentação saudável, variada e nutricionalmente equilibrada, em conjunto com a prática de atividade física, promove um melhor controlo ponderal e, consequentemente, auxilia na minimização do risco de cancro, bem como de outras doenças, como doenças cardíacas, Diabetes Mellitus tipo 2 e hipertensão arterial. Por exemplo, a fibra, presente nos alimentos, atua de diferentes formas: diminui o tempo de trânsito intestinal e a ligação a carcinogéneos, reduz o ph intestinal, estimula a fermentação bacteriana e a produção de ácidos gordos de cadeia curta (butirato), com capacidade de induzir a apoptose. O consumo de bebidas alcoólicas aumenta, também, a probabilidade de desenvolver cancro, particularmente na boca, garganta, esófago, laringe, fígado e mama. O álcool aumenta o risco de desenvolvimento da doença, porque metaboliza o etanol, presente nas bebidas alcoólicas, em acetaldeído. Este é um produto químico tóxico e um provável carcinogénico humano. O álcool aumenta o número de espécies reativas de oxigénio, que podem danificar o DNA, as proteínas e os lípidos.
A ingestão de álcool pode, também, contribuir para a redução da capacidade do organismo em absorver certos nutrientes, dos quais se destacam as vitaminas (vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina D e vitamina E). Os antioxidantes, como a vitamina C, E e o selénio e zinco, são capazes de eliminar as espécies reativas de oxigénio e bloquear a sua atividade.
Recomendações gerais:
Opte por cereais integrais;
Inclua diariamente na sua alimentação as frutas e as hortícolas – o
recomendado são 5 porções por dia de frutos e legumes;
Consuma diariamente leguminosas, como o feijão, grão, ervilhas, favas, entre outros;
Evite o consumo de alimentos processados, mais calóricos, com elevados
teores de açúcar e gordura;
Reduza o consumo de carne processada (enchidos, salsichas,…);
Limite a ingestão de refrigerantes, bebidas açucaradas e de álcool;
Limite a ingestão de sal a 5g/dia;
Mantenha-se fisicamente ativo.
Maçã
Uma boa fonte de fibra e vitamina C – uma maçã fornece pelo menos 10% da quantidade diária recomendada de fibra e vitamina C. A maçã também contém
fitoquímicos, nomeadamente quercetina, um flavonóide com propriedades anti- inflamatórias e antioxidantes, epicatequina e antocianinas.
Mirtilo
Uma excelente fonte de vitaminas C e K, manganês e de fibra alimentar. Os mirtilos estão entre as frutas com maior poder antioxidante, devido aos seus fitoquímicos (antocianinas, catequinas, quercetina, entre outros).
Uvas
Fonte de vitamina C e fibra. Ricas em polifenóis (antocianinas, taninos, resveratrol) com função antioxidante.
Cerejas
Ricas em fibras, vitamina C e potássio. A cor vermelha escura vem do alto teor em antocianinas, que são antioxidantes.
Brócolos e crucíferos
Os vegetais crucíferos são boas fontes de fibra, vitaminas (vitamina C e K), minerais (manganês e potássio) e fitoquímicos. Contêm glucosinolatos, que são decompostos em isotiocianatos. Estes compostos diminuem a inflamação e inibem enzimas que ativam carcinógenos e estimulam as enzimas que desativam estes. Vários estudos indicam que estes compostos estabelecem ligações entre genes que suprimem o tumor, retardando o crescimento das células cancerígenas e estimulando a apoptose.
Tomate
Rico em vitamina C, A e licopeno. 150g de tomate fornecem cerca de 10g da DRI de potássio.
Cenoura
Ricas em fibras, vitamina K e A. Contêm fitoquímicos, que podem atuar como antioxidantes: beta caroteno e alfa-caroteno, carotenóides que o nosso organismo
converte em vitamina A, importante na função imunológica, uma vez que ativa enzimas que metabolizam os carcinógenos; e luteolina, um flavonóide antioxidante e
anti-inflamatória. As cenouras roxas contêm, ainda, antocianinas. As cenouras vermelhas são uma fonte de licopeno e as amarelas contêm luteína.
Leguminosas
Boa fonte de proteína, fibra, ácido fólico e ferro.Ricas em linhanos, saponinas, fitoquímicos, com função antioxidante.
Nozes
Ricas em ácidos gordos polinsaturados n-3, com função anti-inflamatória. As nozes são, também, uma fonte de cobre, manganês e magnésio.
Cereais integrais
Fonte de fibra, magnésio, manganês, tiamina, niacina e selénio. Ricas em lignanas, saponinas, ácido fítico, com função antioxidante.
Infusões
São ricas em catequinas, com atividade antioxidante.
O cancro e os efeitos dos tratamentos podem deteriorar o estado nutricional do doente e contribuir para o aparecimento de sintomas com impacto no estado nutricional, como anorexia, náuseas, vómitos, alterações do trânsito intestinal, dificuldades de mastigação e deglutição, entre outros. O conhecimento de sintomas com impacto no estado nutricional é fundamental para compreender e melhor intervir do ponto de vista nutricional, otimizando o estado nutricional e a qualidade de vida. A avaliação destes sintomas é muito importante, uma vez que muitos destes podem ser controlados e, desta forma, é possível minimizar o seu impacto nutricional. A Nutrição representa um papel fundamental na oncologia, tendo influência no desenvolvimento da doença, na sintomatologia inerente à doença, na resposta ao tratamento e na recuperação após o tratamento. Deste modo, a Nutrição tem um grande impacto no prognóstico da doença e na qualidade de vida destes doentes.