Fui uma adolescente difícil. Não no sentido de dar problemas aos meus pais, isso não. Felizmente não tive contacto com drogas, nunca lhes exigi roupas de marca nem me envolvi em chatices. Nem acne tive, vejam bem. Mas agora, olhando para trás, reconheço que era uma inconformada. Os professores ficavam doidos, reviravam os olhos a cada resposta e a cada vez que levantava o dedo, já muito espetado. Eu era educada mas revoltada, entusiasmada mas pouco obediente. Era tão parva.
Fiz teatro, atletismo, estudei inglês e não percebia bem para que iria ser útil, mas iria ser, nisso eu acreditava. Nada me dava particular visão de futuro até começar a fazer rádio, que aconteceu aos 12 anos. Acho que foi isso que me salvou, que me deu Mundo, visão e coragem. Muita coragem. 100% Liberdade: 100% responsabilidade. A formula era esta, lá em casa. Ainda é. Eu ía, saía para as emissões mas nunca podia deixar de estudar, já na altura acumulava tarefas, actividades. Mal sabiam os meus pais que era parte do meu futuro. Até eu. Foi aqui que tudo começou.
Alinhei a agulha do vinil, arrumei cds por ordem alfabética (acreditem… era um filme!), entrevistei as primeiras pessoas, fiz amigos para a vida. Quis tirar jornalismo pela rádio, só passar música não me chegava. Queria partilhar sons, partilhar mundo, partilhar histórias.
O meu sonho de vida nasceu pela rádio. Se hoje sou jornalista, devo-o à rádio. Minha companheira de tantas horas de viagem, minha confidente, minha amiga ponderada.
Aprendi tanto mas tanto nestes anos todos que sei que foi isso que me deu a estrutura para estar sentada hoje, frente a uma câmara de televisão. Toldou-me mas não me limitou. Admirável.
A radio será sempre o meu primeiro amor. E os amores nunca se esquecem.