Morreste. Morreste. Morreste. Morreste. Morreste. Morreste. Morreste. Morreste. Morreste. Morreste.
Tenho de dizer 10 vezes para que se torne real na minha cabeça como está no papel da análise e no relatório da endoscopia. Morreste, HP e depois da tua morte não há mais nada. Sou-te sincera, ainda não sei bem como reagir a este resultado. Recebi um e duvidei, quis esperar pelo segundo, tu és perita em ‘falsos negativos’. Até já comprei um presentinho para assinalar o momento mas continuo a não encomendar as flores para o teu enterro nem marquei a data. É melhor fazer isso depressa. Aceitar. Com o velório, o funeral e o enterro, a noção da tua memória fica mais fácil. Como Iñaki Piñuel me ensinou a fazer, sobre as pessoas más que habitam a nossa vida, em algum momento, Tem dado jeito, confesso. Agora terei de o aplicar a ti.
Deixaste-me apática. Nestes 7 longos meses desde o teu diagnóstico, aconteceu tudo. 5 antibióticos, enjoos, náuseas, mal estar, cansaço. Mudei a vida, mudei os hábitos. Acalmei e descansei mais. Tentei ser melhor para mim e cuidar-me, para ser mais fácil. Não penses que me estou a fazer de coitadinha mas, sim, estou a queixar-me. Quem dera que apenas eu tivesse sentido isto, afinal, fizeste mal a tanta gente e vais continuar por aí. Infelizmente.
Sabes, nestes dias looooongos em que te carreguei disse muito mal de ti e da vida. Fartei-me de ti muitas vezes. Chamei-te nomes feios e desejei que desaparecesses, NA HORA. Além da minha família, só duas pessoas acompanharam esses momentos mais pesados. Essas alturas em que nem os pensamentos eram bons, eles ajudaram a erguer a parede invisível que bloqueia a parte mais negra da mente humana.
Morreste. Mas foste filha da mãe. O teu fantasma vai ficar para sempre porque deixaste (muitos) outros problemas aqui. O carácter crónico não se muda. Vai ser uma condição para o resto da vida. A parte boa é que há um diagnóstico. Sim, depois de desapareceres as queixas mantinham-se e tinha de haver uma razão. É uma amalgama de chatices no estomago: uma hérnia, grande demais que já está a ser altamente incómoda e mais umas tretas. Chega.
SA-TU-RA-DA.
Não sei que passa de uva me caiu da mão na noite da passagem de ano: se a da sorte ou a da saúde. A da resiliência não foi, com toda a certeza. A vida não é sempre a perder… mas 2018 já podia começar, hein?! Vamos a isso?