Sou pró-Europa. Acredito muito num modelo de União, de concertação de vontades em prol de um objectivo comum. Juntos somos mesmo mais fortes. E não é isso, afinal, a nossa vida? Não pode haver grandes dúvidas. A tarde de domingo foi passada a ouvir quem sabe do assunto: ‘Democracia Europeia: uma ideia cujo tempo chegou?’. Será a democracia que temos suficiente? É preciso fazer mais e melhor? Como? Com que meios?
Ideias partilhadas por um painel de luxo que poucas vezes conseguimos, nós, público, ter tão perto e tão disponível para debater e reflectir. É tão importante ouvir, ouvir, ouvir. Aprender, aprender, aprender.
O Ministro das Finanças de Portugal e Presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, o historiador e fundador do Partido Livre, Rui Tavares, o ex-Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz e o investigador Jan-Werner Müller.
Há várias notas a retirar desta conferência mas o que ficou mais certo foi a ideia que se resume a uma frase de Rui Tavares, “a Europa é indiscutível mas é preciso discuti-la“. É preciso perceber para onde vamos e queremos ir. O Ministro das Finanças lembrou que 74 % dos europeus suportam o Euro, de acordo com dados do Euro Barómetro do outono. Mas também lembrou que, em termos históricos, ” a Europa nunca consegui criar instrumentos que nos unam em objectivos comuns”. E é isto que falta: união, paixão. Sobre isso falou Martin Schulz, muito prático, muito directo, até ao ponto de fazer ir embora o senhor que estava sentado à minha frente. Parece-me que seria pouco entusiasta desta União Europeia (U.E.) e resolveu sair porque já não aguentava os aplausos rasgados. Schulz disse que “a relação entre eleitos e eleitores é que está a afectar a U.E. porque… não existe, não há como chegar às pessoas desta forma carregada, pouco prática de falar da Europa, de mostrar às pessoas por que vale a pena”. E deu 2 exemplos: o Reino Unido e o Brexit e a Grécia e a sua tentativa de enfrentar os credores. Nas diferentes alturas, Schulz reuniu-se com os dois países e recorda o ponto em comum: a paixão, a profunda convicção de que estavam a fazer o correcto pelo seu país, a frase ouvida foi “amo o meu país mais que o meu marido”. E quando assim é… acontece o que aconteceu. Não tão grave no caso grego mas preocupante em termos de coesão, relativamente ao Reino Unido. E a questão surge: como se muda o coração? Como se faz as pessoas sentirem aquilo que não entendem? “Têm de entender, é isso que precisa mudar, é preciso explicar, comunicar com elas, mostrar o que se faz na Europa”, diz. Centeno vai mais longe e fala de uma concertação “de agendas, com tempos políticos, entenda-se, eleições, em todos os países e acabar com o principal entrave para tomar decisões. É um desafio para o futuro, tornar os bancos mais resistentes e os prazos de financiamento mais alargados”. No fundo, a lembrar que “as instituições são incompletas, logo os resultados também, mas que se atravessa um período muito bom, a Europa é um sistema com saldo próximo do equilíbrio, superavit com milhares de euros de poupança. Só se consegue com mecanismos de confiança com investimentos dos vários países e Portugal está nesse debate”, revelou.
Depois, falou-se de populismo. Era inevitável. Todos concordaram que a política se alimenta de diferenças. O prof. Jan-Werner Müller fez a plateia descer à realidade: “não podemos fazer nada (em relação ao populismo). É uma evolução. Nigel Farage (Brexit) teve colaboradores, não fez tudo sozinho. Foi à televisão, teve apoios de peso, ninguém ‘o tirou das ruas’, houve apoio”. E, acrescenta, não podemos fazer nada e é preciso perder a ideia de pessoas perigosas, que usam políticas perigosas. Só devemos estar atentos, mesmo com a possibilidade de saída de outros países”.
A comparação entre U.E. e Estados Unidos da América (E.U.A.) surgiu a cada pausa da conversa. “Na Europa a questão dos direitos humanos é fundamental. Aqui, uma das condições básicas para aderir é que um Estado não tenha pena de morte. Mas o Presidente dos E.U.A. não pode decidir se o Texas tem pena de morte, por exemplo”, lembraram. E a verdade é essa, as pessoas não percebem onde vivem, quais os direitos que detêm, quais os seus deveres, também. É preciso que lhes expliquem. Convenhamos, em Portugal, qual a taxa de abstenção das últimas eleições europeias? Foi a maior de sempre, com 66,2 % (dados PORDATA). Assim… não vamos lá.
Rui Tavares pede que a U.E. se comporte como “um clube, que deve eleger na Assembleia da República os dois representantes permanentes de Portugal no Conselho Europeu, para facilitar a negociação dos tratados, racionalizando a sua política”. E termina “nenhuma democracia nacional perde por se virar uma democracia europeia. Ganham todos. O tempo já chegou há muito“.
Está aqui a resposta.