É-nos difícil lidar com a morte e não devia ser. Afinal, a morte é tão natural quanto a vida, não é?
Todos os dias somos confrontados com isto. Todos já perdemos alguém, todos já confortámos alguém que perdeu alguém, todos já chorámos por alguém que foi embora. A morte faz parte da vida. Há poucas certezas como esta.
Eu acredito profundamente mas profundamente mesmo que todos estamos neste mundo com uma missão. Ninguém vem aqui por acaso, quer a descubra aos 20 ou aos 65 anos.
As pessoas que desapareceram nestes últimos dias tinham todas com um sentido claro de vida: melhorar a vida dos outros.
O Pedro Rolo Duarte, um jornalista que nos inspirava, aos mais novos, com os projectos inovadores, que nos levava a acreditar que afinal… ainda havia esperança para que se fizessem coisas bonitas, em jornalismo.
Belmiro de Azevedo foi o maior empregador no pós 25 de Abril: tão grande que à hora das cerimónias fúnebres os trabalhadores de todo o país cumpriram um minuto de silêncio. Não é apenas porque se é patrão. Há algo maior.
O Zé Pedro, o Zé Pedro dos Xutos… era daquelas pessoas que achávamos imortal, não era? Eu achava. Um bocadinho como o Jorge Palma, o Rui Veloso, o Sérgio Godinho…
Eu vinha a conduzir quando recebi o alerta e nem queria acreditar… Nós, jornalistas, sabíamos que o cenário era incerto e depois do último concerto em que surgiu tão debilitado percebemos que o caso era muito sério.
A música tem uma grande importância na minha vida, teve sempre, comecei na rádio muito cedo. A primeira música que ouvi dos Xutos foi “A casinha”, eu era uma criança nascida em 1984 e esta música surgiu 4 anos depois, se não estou em erro. Os miúdos adoravam-na sem perceber nada da mensagem ali transmitida. Aconteceu isso até crescer um bocadinho e entender a letra da “Chuva Dissolvente”, “Circo de Feras”, “Manhã Submersa”, “Negras como a noite”, “Não sou o único”. E ali estava eu, semana após semana a escolher músicas dos Xutos para os alinhamentos dos programas que fazia. Dei por mim a cantar todas nas emissões especiais que as rádios assumiram logo após conhecida a notícia.
Foi engraçado… percebi aí que estava a acontecer o que eu acho que devemos fazer: celebrar a vida, em particular de quem desaparece, recordar, sorrir, abraçar a memória. Todos os testemunhos que fui ouvindo, as pessoas que foram prestar últimas homenagens, isto não acontece por acaso. O que nos deram, o exemplo que nos deixaram, o imenso património que nos deixaram para sempre. A nossa vida foi melhor porque estas pessoas existiram.
Não conheci nenhuma destas 3 pessoas. Cruzei-me com todas elas mas nunca as entrevistei, nunca me dirigi. Grande tonta. Em alguma altura, elas tocaram a nossa vida: uma palavra, um gesto, um momento que fez, seguramente, toda a diferença e melhorou a vida de cada um.
Esta é ‘a minha música’ dos Xutos e Pontapés.