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28 Novembro, 2017  |  By Patrícia Matos In 5 PERGUNTAS

5 perguntas a João Reis

O João é militar, capitão, e está no Afeganistão ao serviço da NATO. Pedi que me explicasse o que é o espírito de  missão.

 

1- É a tua 5ª missão, certo? Porque aceitaste?
Sim, esta é a 5ª missão no estrangeiro (i.e. 2x Kosovo, 1x Bósnia & Herzegovina, 2x
Afeganistão). Aceitei participar em todas as missões com o objetivo de servir Portugal. Admito,
porém, que também tenha sido por uma questão de crescimento pessoal, uma vez que
trabalhar em ambiente multinacional é extremamente gratificante e enriquecedor.

2- O que é mais difícil numa missão militar?
Na minha opinião, o mais difícil em todas as missões militares é estar longe da família. Por
muito difícil que seja uma missão internacional, a família é quem paga sempre a fatura mais
alta. Por outro lado, dependendo do teatro de operações, também assistimos a situações
difíceis de gerir; situações de pobreza extrema, por exemplo. Apesar de ser difícil
presenciar estes casos, julgo que os militares portugueses marcam a diferença acabando muitas
vezes por ajudar mesmo com recurso aos próprios meios financeiros. Por fim, em termos
profissionais, trabalhar com forças internacionais requer uma adaptação a novos métodos de
trabalho, o que implica a aprendizagem de novos processos e por vezes algumas dificuldades.

3- O que fazes durante o dia?
A missão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no Afeganistão, também
conhecida por Resolute Support Mission é uma missão de assistência militar ao governo afegão.
O principal objetivo da OTAN é ajudar as forças e instituições de segurança afegãs a
desenvolver a capacidade de defender o Afeganistão e a proteger os cidadãos de forma
sustentável. Sem entrar em grandes detalhes, a missão que me está consignada está
relacionada com o treino, assessoria e assistência policial ao(s) líder(es) do ministério do
interior afegão.

 4- Tens receio durante os deslocamentos?
Não. Não tenho receio em relação ao que faço, incluindo deslocamentos a pé ou motorizados
no exterior. Acredito que estou a contribuir para o bem-estar global, em particular a auxiliar a
população afegã. Isso afasta qualquer tipo de receio, pois a minha atitude esta vincada em
convicções que se sustentam nos valores nacionais, aqueles que a sociedade portuguesa me
incutiu e nos quais eu acredito.

5- Enquanto militar, consegues explicar aos civis o que é o espírito de missão?
No meu entendimento, o espírito de missão corresponde ao esforço que os militares incutem
na prossecução dos seus objetivos em representação do seu país. Ou seja, cumprir a sua
missão, independentemente das condições a que sejam submetidos (ex., física, psicológica).
Neste caso particular, o espírito de missão significa garantir que os interesses nacionais sejam
assegurados, assumir os compromissos internacionais/supranacionais ao qual nos
comprometemos (pacta sunt servanda) e, ao mesmo tempo, salvaguardar o estilo de vida dos
nossos concidadãos em Portugal.

Admiro muito quem consegue estar longe dos que ama. Eu acho que não conseguiria, pelo menos tanto tempo. Admiro quem deixa o seu canto, em busca de qualquer coisa melhor para si ou para os outros. A perspectiva militar sempre foi fascinante para mim. Tenho vários exemplos na família e nos últimos anos tenho percebido tudo de forma mais estreita também nas formações que dirijo.

Esta fotografia (acima) foi tirada pouco tempo antes do João regressar ao Afeganistão, no início do mês. Conheci-o no primeiro dia de aulas do meu Doutoramento em Ciência Política, há um ano. A sua postura deixava perceber que tipo de pessoa é. Ganhou a minha admiração quando soube que estava a terminar outro Doutoramento na Universidade de Aveiro. Sim, outro. 2 Doutoramentos. O João é professor na Academia Militar, investigador exemplar, mas tem a lucidez de se fazer entender quando os assuntos em discussão são de Estado, Militares ou Estratégicos, sabendo muito bem qual o lugar que representa.

Sei, e também o referiu, que a situação mais difícil de gerir é a familiar e que sofre com isso, é humano, é normal, mas não mostra fraqueza. O João é provavelmente uma das pessoas com mais inteligência emocional que já conheci, para ele não há demora nos problemas nem na tristeza, desvaloriza questões pelo simples facto de não aprender nada com elas e não aceitar que lhe ocupem tempo. E tem sido das pessoas mais entusiasmadas com este blog. O maior ensinamento que já me deu foi a frase : Atenção aos actos, esquece as palavras.

É isso que vos peço também: tenham atenção a esta fotografia, gentilmente cedida e propositadamente desfocada para este post. Queria muito publicá-la porque cá talvez não tenhamos (todos, pelo menos) noção do dia a dia de um militar numa missão de paz. O povo afegão, todo o povo, convive perfeitamente com esta realidade, as crianças aproximam-se dos estranhos com ou sem armas, são crianças… só querem alguma diversão e parece até que nem percebem que este momento está a ser registado não apenas para que fiquem ‘bem na fotografia’ mas para o eternizar.

O João está no Afeganistão desde Julho, passou por cá em Outubro e volta definitivamente em Fevereiro. Antes de partir fez-me vários pedidos que tenho cumprido e outros que espero jamais verbalizar. Gostava de lhe proporcionar uma viagem de Natal para junto dos que ama mas também sei que o que mais quer é serenidade e paz para levar a sua missão até o fim.

Boas Festas, querido amigo!

Esta entrevista foi devidamente autorizada pelo Exército Português.

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Article by Patrícia Matos

Sou grata porém inconformada. Optimista mas atenta. Alegre mas ponderada. Muito resiliente e ainda mais focada. Por isso, permitam-me a pergunta: se a vida vos dá limões por que insistem em fazer sumo de maçã?

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Patricia Matos

Sou grata porém inconformada. Optimista mas atenta. Alegre mas ponderada. Muito resiliente e ainda mais focada. Por isso, permitam-me a pergunta: se a vida vos dá limões por que insistem em fazer sumo de maçã?

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