“Num mundo globalizado, o bater de asas de uma borboleta na Amazónia bastaria para desencadear um terramoto no Texas”.
A frase do matemático Edward Lorenz não podia fazer mais sentido nem estar cada vez mais perto da realidade. Mas é preciso perceber o que é a globalização. Esta palavra que anda na boca de toda a gente, ainda mais nestes dias de Web Summit em Lisboa (um dos evento mais importantes para o país, já lá vamos).
Globalização pode ser tanta coisa… que fiquemos por estas duas possibilidades: “significa ligar as acções e os destinos de cada indivíduo, organização complexa- seja ela uma sociedade comercial ou uma universidade- e comunidade, por exemplo, a uma nação, às de outros indivíduos, organizações e comunidades” (Bonaglia e Goldstein, 2003). Zygmunt Bauman é mais pragmático e tem a definição que pode reunir o maior número de adeptos: “a globalização é a desvalorização da ordem enquanto tal”, era/é vista fundamentalmente do ponto de vista mercantil.
No entanto, é a definição de Anthony Giddens que, talvez, mais faça sentido: “a globalização significa a intensificação das relações sociais à escala mundial de tal forma que faz depende aquilo que sucede a nível local de acontecimentos que se verificam a grande distância e vice-versa”.
Voltamos à borboleta, certo?
Outros autores que defendem que a globalização é apenas uma versão moderna do colonialismo. O principal argumento desta ideia analisada, por exemplo, por Martin Khor, é a existência de normas, acordos e instituições que vêm definir, fora dos espaços restritos de cada Nação, as regras comuns de cada processo.
Eu acredito que a globalização e a tecnologia andam de mãos dadas. Concordo muito com Thomas L. Friedman do The York Times (já falei dele no post sobre os avanços tecnológicos do anos de 2007) quando diz que “ a inexorável integração de mercados, estados-nações e tecnologias a um nível nunca antes atingido, com a consequência de permitir aos indivíduos, às empresas e aos estados-nações estender a própria acção por todos o mundo mais rapidamente, mais profundamente e com menor custo do que alguma vez foi possível anteriormente”.
A globalização vem aproveitar os sistemas de ligação que nasceram com a 3ª Revolução Industrial (3ª RI) mas que, com a 4ª Revolução Industrial (4ª RI) aproveitaram a transição que cresceu desse processo. Novo, aqui, é a capacidade de estar num canto do mundo, a fazer negócio com outro canto.
Dou-vos um exemplo muito simples: em maio desenvolvi uma reportagem sobre a 4ª RI e as várias áreas em que estava a ser aproveitada em Portugal. Falei com muitas pessoas, conheci muitas realidades que me deixaram fascinada; uma empresa em Câmara de Lobos, na Madeira, altamente tecnológica, que faz a gestão de parques de estacionamento de Portugal inteiro e de Espanha e gere o recrutamento de algumas das autarquias mais importantes do país. Tudo, a partir da ilha, com poucas dezenas de trabalhadores mas com recursos humanos altamente dotados e tecnologia da mais desenvolvida a nível nacional. E depois, um escritório de advogados bem no centro de Lisboa, onde já praticamente não se utiliza papel, todos os dados são armazenados em cloud, disponíveis em qualquer lugar, desde a rua à sala de audiências, em qualquer parte do mundo.
O que se está a negociar por estes dias na Web Summit, em Lisboa, é este conhecimento, são estas oportunidades, são estas formas de fazer avançar a humanidade para que possa viver melhor, de forma mais saudável e exequível.
No ano passado estiveram representadas em Portugal 1.490 startups de todo o mundo, mais de 1.330 investidores (ainda hoje ouvi num canal de televisão uma senhora a dizer que tinha vindo da África do Sul), 677 oradores e 2 mil jornalistas. Foram precisos 3 7mil quilómetros de cabos de fibra, o suficiente para subir o Monte Evereste quatro vezes. A organização revelou que estiveram em Lisboa 53.056 pessoas, de 166 países diferentes. Este ano são 60 mil participantes.
As transmissões via Facebook chegaram a 4 milhões e foram trocadas mais de 1,8 milhões de mensagens.
Não é difícil de acreditar que a receita deste ano seja projectada em 300 milhões de euros.
Ah, e este ano, a Web Summit vai contar com 2 oradores robot. Um dos robots chama-se Sophia, tem forma humana, capaz de recriar uma série de expressões, identificar e reconhecer rostos e manter conversas fluídas.
Curiosos? Eu também.
(Imagens: Google)