O lugar da Teresa era o mesmo que o meu. Quando cheguei ela já estava sentada e, rapidamente, se mudou e chegou à janela. O rosto pareceu-me familiar mas a verdade é que nunca a tinha visto.
Ela dormiu quase toda a viagem para o Funchal. Acho que eu também… travámos conversa apenas na altura da refeição, uma sandwich de ovo e um pastel de nata. Precisavam ver a cara dela quando devolvi o bolo e retirei o ovo do pão: ‘é vegan?!’, perguntou muito chocada. ‘Não’, respondi, ‘sou intolerante’.
Depois dela ter achado aquilo a coisa mais estranha da vida (confesso que eu também, toda a vida comi ovos) lá me contou que os pais viviam no continente mas a mãe era madeirense, que estudava no Colégio Moderno e tocava violino. Vinha passar férias ao Funchal e principalmente, a Porto Santo. Ah, e tinha estado fora de casa até à meia noite, na véspera. Uma loucura para uma menina de 14 anos.
Pegámos no violino, saímos do avião e fomos recolher bagagem. Estavam uns miúdos franceses, muito excitados com o momento (ponham muito nisso!). Deviam ter a idade dela mas a Teresa olhou para mim e, com toda a propriedade de uma menina crescida, disse “bolas, já reparou que as malas são mais educadas que as pessoas… ?”.
Naquele instante, eu agradeci que aquela miúda estivesse sentada no lugar que estava marcado para mim. (Será que estava mesmo…?)